domingo, 23 de agosto de 2020

ASCRON: Associação das Crocheteiras Novarussense, Preste a Completar 35 Anos Relembra Os 20 Anos de Uma Tragédia de Violência Contra Uma Mulher Associada.

Agosto Lilás, Mês de Prevenção a Violência Contra a Mulher e a História de Uma Jovem Que Foi Brutalmente Assassinada e Hoje é Símbolo de Resistência e Luta no Combate a Violência Contra a Mulher Trabalhadora da ASCRON.


A ASSOCIAÇÃO DAS CROCHETEIRAS NOVARUSSENSES (ASCRON), fundada  em 14 de setembro de 1985, está preste a completar 35 anos e traz na sua trajetória histórias de lutas, de conquistas, desafios e de tristezas, com perdas irreparáveis de muitas mulheres trabalhadoras que contribuíram incondicionalmente para a fundação e desenvolvimento da instituição.

Essas histórias podem está registradas nos arquivos da instituição ou podem está marcadas no coração e nas memórias de muitas mulheres que passaram por esta associação, que traz na sua essência a luta da mulher trabalhadora em busca de igualdade de direitos e de uma vida melhor através da arte do crochê.

Foi o que aconteceu com Aureni de Sousa Costa uma jovem de 18 anos, ingressou na Associação no inicio da segunda década de existência da mesma, participou de forma atuante nos movimentos sociais, era membro de um dos grupos de mulheres existente na localidade de Lagoa de Santo Antonio, acreditava no projeto da ASCRON como forma de melhoria de vida  e desenvolvimento das mulheres trabalhadoras de sua comunidade, militava pelo direito da mulher e por questões que abordavam a violência sofrida por mulheres em uma época que o tema ainda era pouco falado.

Infelizmente a sua luta foi o motivo de seu fim trágico, Aurenir foi brutalmente assassinada por um homem frio e calculista que aproveitou da inocência e da confiança que a jovem tinha por ele, para cometer um crime bárbaro que chocou a comunidade de Lagoa de Santo Antônio  e toda região que tiveram conhecimento do caso na época. O criminoso fez do corpo da jovem instrumento para todo tipo de pervenção, deixando-a ainda viva para que ela pudesse ver antes do seu último  suspiro os rosto de seus familiares.

Aurenir faleceu no dia 05 de Março de 2000, sua história foi contada por um poeta local que de forma comovente contou os fatos ocorridos naquela noite trágica através de tristes versos, onde na obra cordelista é narrado o desenrrolar de um crime, e o que possivelmente a jovem sofrera nas mãos do seu algoz.

Após 20 anos sem Aurenir, diante do mês que trata a prevençaõ e combate a violência contra a mulher assim como a comemoração dos 35 anos de existência da Associação de Crocheteiras Novarussense (ASCRON), a Instituição homenageia essa jovem, para que ela seja lembrada como símbolo de resistência e luta para as associada e mulheres que buscam por igualdade de direitos e justiça diante da violência sofrida por muitas mulheres da cidade do campo e das águas.

Mesmo diante das dificuldades que a Associação vem passando, a presidente Selena Silva vem se esforçando para resgatar a história da ASCRON, com o desejo de fortalecer mais a Associação para que mulheres como Aurenir sejam empoderadas e não permitam que suas vidas sejam dizimadas por uma cultura machista e violenta representada pelo alto índice de feminicídio no Brasil. 

Hoje a foto da jovem Aurenir encontra-se  estampada no hall da Instituição para que seja lembrada como uma das principais personagens que fizeram parte da história da ASCRON, mas que lamentavelmente foi interrompida, tornando-se assim referência para que outras lutem contra todo tipo de violência em favor da vida da mulher trabalhadora de Nova Russas e região.

AURENIR DE SOUSA COSTA

Nasceu em 18/05/1980

Faleceu em 05/03/2000

Nota de Repúdio da Atual Presidente da Associação de Crocheteiras Novarussense Sobre o Caso Aurenir.

A Brutalidade e Violência conta a Aurenir – Nossa Indignação e Repudio!

À família de Aurenir – Nosso Eterno Sentimento e Solidariedade!

Basta de violência contra a mulher!

Denucie!

Aurenir – Presente!

Selena Silva – Presidente da ASCRON



A Triste História Contada nos versos de um Cordel, Requintes de Crueldade de Um Assassino Frio que Tirou a Vida de Uma Jovem Cheia de Planos e Sonhos.

                          A TRAGÉDIA DE AURENY CARNAVAL NO ANO 2000.

       I

O destino com certeza

É difícil de entender

Com uns ele é muito bom

Com outros é de doer

Entre lágrimas e sorrisos

Ele se faz perceber.

            II

Este destino que falo

Foi duro com uma pessoa,

Que vivia a sorrir

Na vida não era à toa

Moça simples, muito alegre

De conduta muito boa.

            III

Só sábado para domingo

Foi grande o desespero

Era dia 05 de março de 2000

Quando aquele bandoleiro

Causou a triste tragédia

Que assustou o sertão inteiro.

 

             IV

No lugar Santo Antonio

Distrito de Ararendá

Ocorreu esta tragédia

Que agora vou contar

Do marginal sem escrúpulos

Que pior sei que não há.

           V

No sábado de carnaval

A garota Aurenir

Foi ao baile em Nova Russas

Para lá se divertir

Foi junto com um casal

Que também morava ali.

            VI

Antes de ir sua mãe

Disse pra filha: “ não vá

No carnaval as pessoas

Costumam exagerar

É melhor ficar em casa

“Para o pior evitar”.

            VII

Mas a sorte de Aureny

Já se encontrava traçada

Os argumentos da mãe

Não lhe serviram de nada

Não evitaram a tristeza

Daquela fria madrugada.

            VIII

Foram os três numa moto

Ao baile de carnaval

Divertiram-se a valer

O que é muito natural

Aurenir não sabia

Que iria ter um triste final.

            IX

Quando voltaram a amiga

No Violete ficou

Pediu a Aurenir que ficasse

Mas ela não aceitou

Era como se a morte

Empurrasse-lhe pro terror.

              X

Talvez  não tenha ficado

Prá não da preocupação

Prá sua mãe não brigar

E lhe chamar atenção

Decidiu dormi em casa

Só que lá dormiu mais não.

             XI

O perigoso bandido

Prosseguiu com a menina

Com planos já traçados

Naquela mente assassina

A garota nem pensava

O final de sua sina.

          XII

Ele passou na Lagoa

Correndo mais que o cão

Ela pediu que ele parasse

Mas ele não parou não

Ao contrário, acelerou

Não lhe dando atenção.

          XIII

Foi na estrada que liga

Santo Antonio à Ararendá

Que a tragédia se passou

É triste até relembrar

O que passou Aurenir

Foi de coração cortar.

              XIV

O cara levou a moça

À força pro matagal

Espancou o quanto pôde

Com pedra e também com pau

Foi muita barbaridade

Por conta do marginal.

            XV

Não se sabe bem ao certo

Como tudo aconteceu

Mas sabemos de que forma

Aquela moça morreu

Com a cabeça quebrada

E o quanto ela sofreu.

           XVI

Depois dela quase morta

Também foi violentada

Pelo bandido malvado

As duas da madrugada

Mas sua sorte também

Já estava traçada.

         XVII

Arrancou os seus cabelos

Seus dentes ele quebrou

Deixou-lhe toda despida

Suas roupas ele rasgou

Todo tipo de maldade

O bandido lhe causou.

          XVIII

Mesmo com tantas maldades

Ele não se contentou

Deu-lhe tapas, lhe mordeu

Seu seio quase arrancou

Só os dois naquele mato

Numa noite de terror.

           XIX

O que fez com Aureny

Foi uma coisa brutal

Não se deve fazer isso

Nem com um feroz animal

Muito menos com uma jovem

Que não gostava do mal.

           XX

Depois de tudo saiu

Como quem nunca fez nada

Deixou Aureny morrendo

Sozinha na madrugada

Sem ajuda, sem socorro

Sofrendo toda rasgada.

           XXI

Não passou uma pessoa

Que pudesse lhe ajudar

O que passou aquela moça

É impossível imaginar,

Sozinha naquela lama

Só a morte estava lá.

           XXII

Sem amparo da mãe,

Do pai ou de um irmão

Quase enterrada na lama

No frio, na escuridão

Só esperando sua hora

Sem nenhuma reação.

          XXIII

Mesmo estando inconsciente

Ela deve ter pensado

Nos seus irmãos, seus pais,

Seus amigos, no passado

Deve ter sentido saudades

Até do seu namorado.

        XXIV

Deve ter pedido a Deus

Já que era moça pura

Que aliviasse sua dor

Que acabasse a tortura

Que ela estava passando

Naquela noite escura.

           XXV

Deve ter até chorado

Rolando naquele chão

Além da dor das pancadas

A da violentação

Sangrando toda despida

Na maior humilhação.

         XXVI

Deve ter sentido a morte

Já querendo lhe levar

Sem mais tempo prá nada

Vendo sua hora chegar

Quem sabe naquele instante

Ainda pôde rezar.

               XXVII

Enquanto isso o bandido

Pegou sua moto e saiu

Foi falar com um parente

Disse que a moça caiu

Da garupa de sua moto

Nesta hora ele mentiu.

             XXVIII

O nome que lhe botaram

tinha tudo prá prestar

Pois lhe chamavam Dideus

O certo era ser do diabo

Para melhor combinar.

           XXIX

Estes parentes seus foram

Conferir se era verdade

Chegaram lá encontraram

Uma cena de maldade

Aquela moça despida

Vítima da perversidade.

          XXX

Avisaram a mãe da moça

Do que estava acontecendo

O Ademir seu irmão

Para lá saiu correndo

Viu sua irmã desmaiada

Toda quebrada, morrendo.

            XXXI

Logo arranjaram um carro

E a levaram a Sobral

Mas ela não resistiu

Aquele ataque brutal

E morreu a pouco tempo

Que chegou ao hospital.

            XXXII

A polícia agiu rápido

A justiça humana se fez

Em pouco tempo o Dideus

Já estava no xadrez

Ficou poucos dias lá

Uns quatro ou cinco talvez.

           XXXIII

Pegaram-lhe em Ipueiras

Trouxeram para Ararendá,

Levaram para Crateús

Para lhe trancarem lá

Iriam prendê-lo em Fortaleza

Mas não deu tempo levar.

            XXXIV

Pois a justiça divina

Não custou e nem tardou

Com poucos dias depois o preso

Na cadeia se enforcou

Não suportou a pressão

Da desgraça que causou.

          XXXV

Existe o bem e o mal,

Cabe a nós escolher

Quem faz o bem, com certeza

Só coisas boas vão ter,

Mas quem escolhe o mal

Nesta vida leva pau

Esta é a lei do viver.

 Autor: Tarcísio Soares Mourão

Em: 30/04/2000

 

 NOTA DA AUTORA:

Contar e trazer histórias de vida na minha página é um dos momentos mais prazerosos , ao escrever sobre pessoas sobre histórias de vida me faz vivenciar o que essas pessoas sentiram. 

Com essa história não foi diferente, ao ler esse cordel com riquezas de detalhes que tão bem o autor escreveu, apresentando os fatos do ocorrido naquela noite macabra, expressando através de tristes versos o que possivelmente essa jovem sofreu naquela noite escura após ser violentada, com seus membros dilacerados, seu corpo doído, sem forças para gritar e pedir socorro. (veja cordel na matéria acima)

Já havia lido esse cordel, por ser amante da arte cordelista, confesso que ao escrever sobre o caso, sentir uma tristeza e uma melancolia por pensar em como sofrera essa menina.

Aqui deixo minha contribuição e minha bandeira levantada em prol da defesa da vida e meu repúdio a toda violência contra a mulher. Mulheres não se Calem, denunciem toda e qualquer violência, seja ela psicológica, física, financeira ou moral. Procure os órgão responsáveis de sua cidade como CREAS, CONSELHOS DE DIREITOS, DELEGACIA ou liguem para o 180.

Sol Rocha


Um comentário:

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