Agosto
Lilás, Mês de Prevenção a Violência Contra a Mulher e a História de Uma Jovem Que Foi Brutalmente Assassinada e Hoje é Símbolo de Resistência e
Luta no Combate a Violência Contra a Mulher Trabalhadora da ASCRON.
A
ASSOCIAÇÃO DAS CROCHETEIRAS NOVARUSSENSES (ASCRON), fundada em 14 de setembro de 1985, está preste a
completar 35 anos e traz na sua trajetória histórias de lutas, de conquistas,
desafios e de tristezas, com perdas irreparáveis de muitas mulheres
trabalhadoras que contribuíram incondicionalmente para a fundação e
desenvolvimento da instituição.
Essas
histórias podem está registradas nos arquivos da instituição ou podem está
marcadas no coração e nas memórias de muitas mulheres que passaram por esta
associação, que traz na sua essência a luta da mulher trabalhadora em busca de
igualdade de direitos e de uma vida melhor através da arte do crochê.
Foi
o que aconteceu com Aureni de Sousa Costa uma jovem de 18 anos, ingressou na
Associação no inicio da segunda década de existência da mesma, participou de
forma atuante nos movimentos sociais, era membro de um dos grupos de mulheres existente
na localidade de Lagoa de Santo Antonio, acreditava no projeto da ASCRON como
forma de melhoria de vida e
desenvolvimento das mulheres trabalhadoras de sua comunidade, militava pelo
direito da mulher e por questões que abordavam a violência sofrida por
mulheres em uma época que o tema ainda era pouco falado.
Infelizmente
a sua luta foi o motivo de seu fim trágico, Aurenir foi brutalmente assassinada
por um homem frio e calculista que aproveitou da inocência e da confiança que a
jovem tinha por ele, para cometer um crime bárbaro que chocou a comunidade de Lagoa de Santo Antônio e
toda região que tiveram conhecimento do caso na época. O criminoso fez do corpo
da jovem instrumento para todo tipo de pervenção, deixando-a ainda viva para
que ela pudesse ver antes do seu último
suspiro os rosto de seus familiares.
Aurenir
faleceu no dia 05 de Março de 2000, sua história foi contada por um poeta local
que de forma comovente contou os fatos ocorridos naquela noite trágica através
de tristes versos, onde na obra cordelista é narrado o desenrrolar de um crime, e o que
possivelmente a jovem sofrera nas mãos do seu algoz.
Após
20 anos sem Aurenir, diante do mês que trata a prevençaõ e combate a violência
contra a mulher assim como a comemoração dos 35 anos de existência da
Associação de Crocheteiras Novarussense (ASCRON), a Instituição homenageia essa jovem, para
que ela seja lembrada como símbolo de resistência e luta para as associada e
mulheres que buscam por igualdade de direitos e justiça diante da violência
sofrida por muitas mulheres da cidade do campo e das águas.
Mesmo
diante das dificuldades que a Associação vem passando, a presidente Selena Silva vem se esforçando para resgatar a história da ASCRON, com o desejo de fortalecer mais a Associação para que mulheres como Aurenir sejam empoderadas e não permitam que suas vidas sejam dizimadas por uma cultura machista e violenta representada pelo alto índice de feminicídio no Brasil.
Hoje a
foto da jovem Aurenir encontra-se
estampada no hall da Instituição para que seja lembrada como uma das principais
personagens que fizeram parte da história da ASCRON, mas que lamentavelmente
foi interrompida, tornando-se assim referência para que outras lutem contra
todo tipo de violência em favor da vida da mulher trabalhadora de Nova Russas e região.
AURENIR DE SOUSA COSTA
Nasceu
em 18/05/1980
Faleceu
em 05/03/2000
Nota
de Repúdio da Atual Presidente da Associação de Crocheteiras Novarussense Sobre
o Caso Aurenir.
A
Brutalidade e Violência conta a Aurenir – Nossa Indignação e Repudio!À
família de Aurenir – Nosso Eterno Sentimento e Solidariedade!
Basta
de violência contra a mulher!
Denucie!
Aurenir
– Presente!
Selena
Silva – Presidente da ASCRON
A Triste História Contada nos versos de um Cordel, Requintes de Crueldade de Um Assassino Frio que Tirou a Vida de Uma Jovem Cheia de Planos e Sonhos.
A TRAGÉDIA DE AURENY CARNAVAL NO ANO 2000.
I
O destino com certeza
É difícil de entender
Com uns ele é muito bom
Com outros é de doer
Entre lágrimas e sorrisos
Ele se faz perceber.
II
Este destino que falo
Foi duro com uma pessoa,
Que vivia a sorrir
Na vida não era à toa
Moça simples, muito alegre
De conduta muito boa.
III
Só sábado para domingo
Foi grande o desespero
Era dia 05 de março de 2000
Quando aquele bandoleiro
Causou a triste tragédia
Que assustou o sertão inteiro.
IV
No lugar Santo Antonio
Distrito de Ararendá
Ocorreu esta tragédia
Que agora vou contar
Do marginal sem escrúpulos
Que pior sei que não há.
V
No sábado de carnaval
A garota Aurenir
Foi ao baile em Nova Russas
Para lá se divertir
Foi junto com um casal
Que também morava ali.
VI
Antes de ir sua mãe
Disse pra filha: “ não vá
No carnaval as pessoas
Costumam exagerar
É melhor ficar em casa
“Para o pior evitar”.
VII
Mas a sorte de Aureny
Já se encontrava traçada
Os argumentos da mãe
Não lhe serviram de nada
Não evitaram a tristeza
Daquela fria madrugada.
VIII
Foram os três numa moto
Ao baile de carnaval
Divertiram-se a valer
O que é muito natural
Aurenir não sabia
Que iria ter um triste final.
IX
Quando voltaram a amiga
No Violete ficou
Pediu a Aurenir que ficasse
Mas ela não aceitou
Era como se a morte
Empurrasse-lhe pro terror.
X
Talvez não tenha ficado
Prá não da preocupação
Prá sua mãe não brigar
E lhe chamar atenção
Decidiu dormi em casa
Só que lá dormiu mais não.
XI
O perigoso bandido
Prosseguiu com a menina
Com planos já traçados
Naquela mente assassina
A garota nem pensava
O final de sua sina.
XII
Ele passou na Lagoa
Correndo mais que o cão
Ela pediu que ele parasse
Mas ele não parou não
Ao contrário, acelerou
Não lhe dando atenção.
XIII
Foi na estrada que liga
Santo Antonio à Ararendá
Que a tragédia se passou
É triste até relembrar
O que passou Aurenir
Foi de coração cortar.
XIV
O cara levou a moça
À força pro matagal
Espancou o quanto pôde
Com pedra e também com pau
Foi muita barbaridade
Por conta do marginal.
XV
Não se sabe bem ao certo
Como tudo aconteceu
Mas sabemos de que forma
Aquela moça morreu
Com a cabeça quebrada
E o quanto ela sofreu.
XVI
Depois dela quase morta
Também foi violentada
Pelo bandido malvado
As duas da madrugada
Mas sua sorte também
Já estava traçada.
XVII
Arrancou os seus cabelos
Seus dentes ele quebrou
Deixou-lhe toda despida
Suas roupas ele rasgou
Todo tipo de maldade
O bandido lhe causou.
XVIII
Mesmo com tantas maldades
Ele não se contentou
Deu-lhe tapas, lhe mordeu
Seu seio quase arrancou
Só os dois naquele mato
Numa noite de terror.
XIX
O que fez com Aureny
Foi uma coisa brutal
Não se deve fazer isso
Nem com um feroz animal
Muito menos com uma jovem
Que não gostava do mal.
XX
Depois de tudo saiu
Como quem nunca fez nada
Deixou Aureny morrendo
Sozinha na madrugada
Sem ajuda, sem socorro
Sofrendo toda rasgada.
XXI
Não passou uma pessoa
Que pudesse lhe ajudar
O que passou aquela moça
É impossível imaginar,
Sozinha naquela lama
Só a morte estava lá.
XXII
Sem amparo da mãe,
Do pai ou de um irmão
Quase enterrada na lama
No frio, na escuridão
Só esperando sua hora
Sem nenhuma reação.
XXIII
Mesmo estando inconsciente
Ela deve ter pensado
Nos seus irmãos, seus pais,
Seus amigos, no passado
Deve ter sentido saudades
Até do seu namorado.
XXIV
Deve ter pedido a Deus
Já que era moça pura
Que aliviasse sua dor
Que acabasse a tortura
Que ela estava passando
Naquela noite escura.
XXV
Deve ter até chorado
Rolando naquele chão
Além da dor das pancadas
A da violentação
Sangrando toda despida
Na maior humilhação.
XXVI
Deve ter sentido a morte
Já querendo lhe levar
Sem mais tempo prá nada
Vendo sua hora chegar
Quem sabe naquele instante
Ainda pôde rezar.
XXVII
Enquanto isso o bandido
Pegou sua moto e saiu
Foi falar com um parente
Disse que a moça caiu
Da garupa de sua moto
Nesta hora ele mentiu.
XXVIII
O nome que lhe botaram
tinha tudo prá prestar
Pois lhe chamavam Dideus
O certo era ser do diabo
Para melhor combinar.
XXIX
Estes parentes seus foram
Conferir se era verdade
Chegaram lá encontraram
Uma cena de maldade
Aquela moça despida
Vítima da perversidade.
XXX
Avisaram a mãe da moça
Do que estava acontecendo
O Ademir seu irmão
Para lá saiu correndo
Viu sua irmã desmaiada
Toda quebrada, morrendo.
XXXI
Logo arranjaram um carro
E a levaram a Sobral
Mas ela não resistiu
Aquele ataque brutal
E morreu a pouco tempo
Que chegou ao hospital.
XXXII
A polícia agiu rápido
A justiça humana se fez
Em pouco tempo o Dideus
Já estava no xadrez
Ficou poucos dias lá
Uns quatro ou cinco talvez.
XXXIII
Pegaram-lhe em Ipueiras
Trouxeram para Ararendá,
Levaram para Crateús
Para lhe trancarem lá
Iriam prendê-lo em Fortaleza
Mas não deu tempo levar.
XXXIV
Pois a justiça divina
Não custou e nem tardou
Com poucos dias depois o preso
Na cadeia se enforcou
Não suportou a pressão
Da desgraça que causou.
XXXV
Existe o bem e o mal,
Cabe a nós escolher
Quem faz o bem, com certeza
Só coisas boas vão ter,
Mas quem escolhe o mal
Nesta vida leva pau
Esta é a lei do viver.
Autor: Tarcísio Soares Mourão
Em: 30/04/2000
NOTA DA AUTORA:
Contar e trazer histórias de vida na minha página é um dos momentos mais prazerosos , ao escrever sobre pessoas sobre histórias de vida me faz vivenciar o que essas pessoas sentiram.
Com essa história não foi diferente, ao ler esse cordel com riquezas de detalhes que tão bem o autor escreveu, apresentando os fatos do ocorrido naquela noite macabra, expressando através de tristes versos o que possivelmente essa jovem sofreu naquela noite escura após ser violentada, com seus membros dilacerados, seu corpo doído, sem forças para gritar e pedir socorro. (veja cordel na matéria acima)
Já havia lido esse cordel, por ser amante da arte cordelista, confesso que ao escrever sobre o caso, sentir uma tristeza e uma melancolia por pensar em como sofrera essa menina.
Aqui deixo minha contribuição e minha bandeira levantada em prol da defesa da vida e meu repúdio a toda violência contra a mulher. Mulheres não se Calem, denunciem toda e qualquer violência, seja ela psicológica, física, financeira ou moral. Procure os órgão responsáveis de sua cidade como CREAS, CONSELHOS DE DIREITOS, DELEGACIA ou liguem para o 180.
Sol Rocha