Átila Carvalho Conta Como Sobreviveu a Rebeliões e Foi Recebido por Representantes do Estado Para Negociar com Presos.
Imagem meramente ilustrativa. Fonte Google Imagens |
Um Breve Relato da Situação dos Presídios Brasileiros
De Acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), atualmente a população carcerária no Brasil é equivalente a 812.564 presos. As superlotações nos presídios brasileiros desencadeiam para o Estado problemas que acabam refletindo em toda sociedade brasileira, atingindo principalmente o setor de segurança pública deixando a população a mercê de manifestações de violência promovidas por as grandes facções criminosas.
São muitos os ditos sobre o crime, como muitas são as opiniões e posicionamentos sobre o tema: alguns dizem que o crime não compensa, que o mundo do crime é um mundo sombrio, dizem ainda que o inferno é aqui quando se vive o confinamento do cárcere nos presídios brasileiros.
As discussões com essa temática requer cuidados para que o chamado senso comum de um discurso que diz que " bandido bom é bandido morto", não venha ser uma regra, podendo com isso se perder a oportunidade de conhecer o outro lado da história. Histórias essas que vem confirmar que toda regra tem suas exceções.
E pode ser possível que alguns indivíduos diante do sofrimento que o crime causou a estes ou a seus familiares por as escolhas erradas feitas em um determinado período de suas vidas sirvam de lição diante de um arrependimento, e que possa ser possível se construir uma nova história e ajudar aqueles que acham que mundo do crime é só glamur e poder.
E pode ser possível que alguns indivíduos diante do sofrimento que o crime causou a estes ou a seus familiares por as escolhas erradas feitas em um determinado período de suas vidas sirvam de lição diante de um arrependimento, e que possa ser possível se construir uma nova história e ajudar aqueles que acham que mundo do crime é só glamur e poder.
Foi o que aconteceu com Átila Carvalho, um filho de Nova Russas, que pagou muito caro por as escolhas que fez no passado e que o levaram a amargar 06 penosos anos em uma das penitenciarias mais perigosa do Ceará. Viveu momentos de angustias de desespero de solidão e abandono, mas também se refez se redescobriu e fez dessa experiência motivo para se superar a cada dia, e sonha fazer dessas experiências exemplo para ajudar pessoas a não enveredar pelo mundo do crime.
O Crime a Condenação e a Reclusão.
Imagem meramente Ilustrativa |
Isso seria o que aconteceria com Átila Carvalho mas quis o destino que os rumos de sua história fosse muito além do que ele imaginara, e o resultado de uma decisão em enveredar pelo caminho mais curto para conseguir se manter financeiramente tornou-se a partir dali um terrível pesadelo que durou quase 06 anos.
Foi preso e condenado a mais de 88 anos de prisão em regime fechado, primeiro caso segundo ele em todo Brasil que um crime de furto foi julgado a tantos anos de reclusão. O veredicto do juiz o deixou sem chão, o que vinha a sua mente era que mesmo cumprindo um terço de sua pena sairia dali depois de 26 anos.
De acordo com Átila ele tornou-se para as policias de alguns estados do Brasil, o criminoso mais procurado e hábil com o que fazia. Ele diz que criou os próprios métodos de operacionalizar o seu negócio com cartões, trabalhava sozinho, não tinha parceiros, sua mente foi considerada pelos agentes federais como uma das mentes mais brilhantes no trabalho com a tecnologia que ele usava para praticar os crimes. E ele atribui a sua condenação a sua fama como clonador de cartões.
Foi preso e encarcerado no presídio de Itaitinga I, onde passou por os piores momentos de sua vida. Quando ele se deparou com o cenário de onde viveria dali por diante percebeu que sua vida tinha acabado,ele que nunca foi preso não sabia como iria sobreviver naquele lugar.
De acordo com Átila ele tornou-se para as policias de alguns estados do Brasil, o criminoso mais procurado e hábil com o que fazia. Ele diz que criou os próprios métodos de operacionalizar o seu negócio com cartões, trabalhava sozinho, não tinha parceiros, sua mente foi considerada pelos agentes federais como uma das mentes mais brilhantes no trabalho com a tecnologia que ele usava para praticar os crimes. E ele atribui a sua condenação a sua fama como clonador de cartões.
Foi preso e encarcerado no presídio de Itaitinga I, onde passou por os piores momentos de sua vida. Quando ele se deparou com o cenário de onde viveria dali por diante percebeu que sua vida tinha acabado,ele que nunca foi preso não sabia como iria sobreviver naquele lugar.
A cela em que foi colocado com mais 18 presos era um espaço apertado em que iria conviver só Deus sabia por quantos anos com todos aqueles desconhecidos. Ali estavam criminosos de todos os tipos, usuários de crack, seres humanos que ele jamais pensara em ter que compartilhar o dia a dia. A sua casa dali para frente seria alguns metros quadrados que iria dividir com aqueles homens.
A sujeira e o mal cheiro predominava naquele lugar, onde todos faziam suas necessidades no mesmo espaço, onde a sua cama era um chão duro e imundo e que tinha como travesseiro garrafas de peti, e o calor era insuportavelmente seu companheiro nas noites mal dormidas daquele inferno chamado Prisão, daquele dia em diante nunca mais soube o que era uma noite de sono tranquila e em paz, pois temia por sua vida e não podia relaxar um segundo sequer.
A realidade da sua situação naquela cela sinistra talvez não seria o pior pesadelo que teria que viver naquele lugar. Segundo Átila a pior parte eram os banhos de sol que para ele eram como momentos de torturas. Os presos tinham que ficar sentados nus em um pátio de 07 horas da manhã até meio dia. O problema não era suportar o sol escaldante que com o passar das horas ia esquentando as nádegas, o pior era suportar ter um preso encostado atrás de você, como também ficar sentado entre as pernas de um desconhecido e ter outro entre suas pernas, isso claro que todos os presos despidos.
As humilhações foram inúmeras, nada se compara a passar sede e quando estava sentado naquela posição humilhante em um sol que queimava não só sua carne mas queimava também a sua honra e dignidade.
As humilhações foram inúmeras, nada se compara a passar sede e quando estava sentado naquela posição humilhante em um sol que queimava não só sua carne mas queimava também a sua honra e dignidade.
A Decisão de Mudar os Rumos da Sua História e a Luta para Sair dali com Vida.
Átila Carvalho |
Clamo a ti, porém, tu não me respondes; estou em pé, porém, para mim não atentas.
Tornaste-te cruel contra mim; com a força da tua mão resistes violentamente.
Levantas-me sobre o vento, fazes-me cavalgar sobre ele, e derretes-me o ser.
Porque eu sei que me levarás à morte e à casa do ajuntamento determinada a todos os viventes.
Porém não estenderá a mão para o túmulo, ainda que eles clamem na sua destruição.
Porventura não chorei sobre aquele que estava aflito, ou não se angustiou a minha alma pelo necessitado?
Todavia aguardando eu o bem, então me veio o mal, esperando eu a luz, veio a escuridão.
As minhas entranhas fervem e não estão quietas; os dias da aflição me surpreendem.
Denegrido ando, porém não do sol; levantando-me na congregação, clamo por socorro.
Irmão me fiz dos chacais, e companheiro dos avestruzes.
Enegreceu-se a minha pele sobre mim, e os meus ossos estão queimados do calor.
A minha harpa se tornou em luto, e o meu órgão em voz dos que choram.
Jó 30:20-31
Um certo dia deitado naquele chão úmido esperando o arrastar de mais uma longa e cansativa noite, viu um clarão e homem de branco chegou para ele e falou que era necessário ele passar por tudo aquilo e que ele não desanimasse que ele iria sofrer muito, mas era preciso.
A partir de então suas forças se renovaram, sua esperança restaurou e decidiu que iria lutar para mudar aquela situação, buscou novos advogados para recorrer, começou a estudar o código civil brasileiro e começou a trabalhar junto com seu advogado para que sua pena fosse revista.
Nesse meio tempo decidiu também mudar o meio em que vivia, começou a se dedicar a limpeza da cela e conscientizar os companheiros de que viveriam melhor se todos cooperassem para terem um local limpo e menos degradante. Assim começou a ganhar a confiança e o respeito dos companheiros de cela, sendo exemplo para outros que começaram a seguir seu exemplo. Começou também a falar de coisas positivas,do amor do perdão e de Deus.
Nas suas reminiscências lembra de um episódio em que chegou um determinado preso que havia matado um homem, que por azar do mesmo foi colocado no mesmo presidio em que estava o irmão do homem que havia matado, e que assim que chegou aquele local sua sentença de morte já fora decidida. Mas as coisas estavam mudando naquele lugar, com muito diálogo todos estavam começando a ganhar algumas regalias, como ventiladores produtos de limpeza e o mais importante uma comida menos ruim, isso graças as intervenções de Átila junto aos presos e a baixa de mortes que vinha acontecendo desde a sua chegada.
Mas a decisão daquele preso que queria vingança e matar o assassino de seu irmão poderia colocar tudo a perder e todos poderiam perder se acontecesse essa fatalidade. O homem a muito custo foi convencido por Átila a não tirar aquela vida, tirando assim aquele pobre preso das garras da morte e tendo do mesmo a gratidão de ter sido salvo.
O tempo de paz e bonança acabou quando em 2016 começou as rebeliões nos presídios cearenses, e o medo de morrer e não mais ver sua família bateu forte, mas ele sabia que tudo que viveu e tudo que passou tinha um propósito, foi escolhido para fazer as intervenções entre o Estado e os presos daquela unidade, foi recebido por a mais alta autarquia dos poderes judiciário e executivo, teve a oportunidade de conversar com representantes do governador Camilo Santana e diz que há registros sobre esse momento.
Após todo esse sofrimento Átila Carvalho conseguiu a tão sonhada liberdade, conseguiu reverter os 88 anos, cumpriu alguns meses sendo monitorado com a tornozeleira eletrônica, conseguiu um trabalho onde consegue cumprir com dignidade suas obrigações como pai e cidadão.Fez a prova do Enem e sonha em dar continuidade aos estudos e concluir seus estudos, e o mais importante acredita que foi necessário passar por tudo para que se tornasse uma outra pessoa.
A Entrevista.
Átila Carvalho |
Sol Rocha: Ao sair do sistema carcerário qual o sentimento de liberdade?
Átila: Algo sem explicação, como nascer de novo. Uma nova oportunidade de recomeço.
Sol Rocha: Você sofreu ou ainda sofre preconceitos pela sua condição de ex presidiário?
Átila: O preconceito infelizmente é algo natural, pois muito poucos ou quase ninguém consegue entender e te dar uma oportunidade em cima dos erros do passado, é sempre necessário não desisti dos objetivos e perdoar sempre aqueles que me julgarem.
Sol Rocha: Quem lhe estendeu a mão e lhe deu oportunidade para recomeçar?
Átila: As maiores oportunidades são dadas pelo nosso próprio esforço e sonhos. Acho que meu pai foi talvez o único que nunca desistiu de mim sempre acreditando na minha capacidade de dar a volta por cima, agradeço também a Socorrinha Vereadora, a Érica Secretária de Assistência Social, pela oportunidade que me deram ,de trabalhar registado durante todo esse ano de 2019,foi uma ótima oportunidade para quebrar preconceitos.
Sol Rocha: Quais seus projetos e sonhos para sua vida profissional?
Átila: Pretendo iniciar minha faculdade nesse ano de 2020 dessa vez pública,pretendo estabilizar mais ainda a minha empresa de buffet, gerando empregos,e pretendo continuar prestando meu serviço de cozinheiro para a prefeitura, e também lançar projetos social de esporte para jovens em situação de vulnerabilidade.
Sol Rocha: Você acha que seus testemunho pode ajudar jovens a não ingressar no mundo do crime?
Átila: Com certeza,pois,eu sou o exemplo de que o Crime não compensa, existe coisa,que você perde quando está preso,como,o tempo,o carinho da Família, a afeição de um Pai e de uma Mãe,o crescimento dos filhos,e isso são coisas que não voltam mais, são irreversíveis.
Sol Rocha: Se você pudesse voltar no tempo o que deixaria para trás e o que traria de volta de lá ?
Átila: Jamais,teria aberto essa porta,e vivido esta experiência, e o que eu traria de volta do passado,é a superação de nunca ter desistido e sempre acreditar no Impossível.
Sol Rocha: Que mensagem deixaria para aqueles que começam a envolver-se com o crime?
Átila: Por maiores que sejam as dificuldade que você possa passar,pegar atalhos nunca será a melhor opção, o mundo do crime é uma ilusão passageira,que dura muito pouco e que vai roubar por muito tempo a sua vida,que vai te levar a uma experiência de total solidão e desespero, e que você será para todos a sua volta, um completo "Lixo humano",o mundo do crime é apenas uma grande ilusão, trabalhe se esforce crie suas próprias oportunidades, e acredite nos seus sonhos ,por mais difícil que possa ser,por mais pedras que tenha na estrada,sempre será a melhor opção viver com honestidade dignamente e viverá mais feliz.
Sol Rocha: Você falou em um homem de luz em forma de visão ou sonho. Você acredita que Deus falou com você naquela noite?
Átila: Com certeza,Deus enviou um anjo para me encorajar naquele momento, eu estava em total desespero pensando em desistir da vida,e aquela luz ela me deu um objetivo, uma missão que veio dos céus, e a partir dali,eu tive certeza que Deus estaria comigo em todos os momentos da minha vida,por isso que hoje tudo que me aconteceu eu recebo como uma missão.
Sol Rocha: Para você falar esse testemunho além dessa ferramenta que é o blogue que caminhos você pretende traçar para que essa história chegue aqueles que precisam?
Átila: Eu pretendo elaborar palestras em formas de testemunho, onde eu possa está levando esta mensagem para igrejas ,escolas,rádios eventos diversos, que possam transmitir essa mensagem para o máximo de pessoas possíveis.
Sol Rocha: Lá no inicio você atribuiu suas escolhas a falta de oportunidade. Por tudo que você viveu se as dificuldades e os problemas estivessem difíceis de superar você faria algo parecido outra vez?
Átila: Não,hoje eu tenho maturidade e experiência de entender que,o caminho que eu tracei foi o caminho que roubou o crescimentos dos meus filhos, o carinho e momentos únicos com meus pais,destruiu minha família, e isso são coisas que eu não consigo mais voltar,hoje independente de qualquer situação eu estarei de cabeça erguida e focado,para através de esforços e do trabalho alcançar meus objetivos.
O Momento mais triste para uma pessoa que se encontra no cárcere é a noite de natal, uma noite em que se pensa na família, nos filhos nos pais nos irmãos (as), uma noite em que a dor aperta seu coração que chega a doer a alma. (Átila Carvalho)
Nota da Autora.
Quando decido falar sobre determinado assunto ou contar a História de alguém no meu Blog isso acontece naturalmente, mas para que eu decida fazer uma História ela tem que chamar minha atenção de alguma forma, e isso só acontece quando a história ou a matéria se materializa na minha cabeça antes mesmo de coloca-las em inscritos.
Outro critério que uso para realizar esse trabalho é que de alguma forma essa História possa fazer a diferença na vida das pessoas de forma positiva. Não me importa se vou ter poucos ou milhares de acesso o que me importa realmente é que ela possa ser ferramenta de reflexão e transformação para aqueles que acessam.
Conheci o personagem dessa História agora em 2019, já tinha ouvido falar ao seu respeito, mas foi quando ele veio trabalhar comigo que tivemos uma convivência mais próxima. A alguns dias atrás começamos a conversar e ele começou a contar como era a vida na prisão. Ao ouvir todos aqueles relatos automaticamente comecei a registrar mentalmente cada palavra cada relato, colocando meu cérebro em modo gravar, e vi nessa História uma oportunidade de mostrar o horror de se viver no sistema carcerário de nosso país. Já vi vários filmes, matérias de telejornais e documentários sobre o tema, mas ouvir da boca de alguém que viveu essas experiências é sem dúvida uma viagem.
Quando ainda estava na universidade tive oportunidade de participar de aulas práticas no sistema prisional de Bangu no Rio de Janeiro, assim como tive importantes aulas sobre a formação das grandes organizações criminosas com aulas na Ilha Grande, um arquipélago paradisíaco que abrigou um dos maiores presídios do Brasil, que abrigou criminosos políticos e bandidos de alta periculosidade, hoje a Ilha é lugar de visitações e turismo.
O que eu quero mostrar com a História de Átila Carvalho, é que todo ser humano é passível de arrepender-se e que é possível escrever uma nova História, que pessoas que erram seja qual for o caminho que tenham escolhido tem direito a uma segunda chance. Que nós como sociedade temos uma obrigação de respeitar esses cidadãos que buscam continuar suas vidas de forma digna. O preço já foi pago, e essa história e os sofrimentos a que foi submetido no cárcere possivelmente foram suficientes para uma reflexão de que o mundo do crime é sinonimo de sofrimento e dor.
Assim deixemos nosso preconceito de lado, nós não somos melhores que o outro, ninguém está livre de conhecer ou ter alguém na família que anda por caminhos tortuosos, mas que precisam de nossa atenção e de nossas orações.
"E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele dizendo: Se tu és o o Cristo, salva-te a ti mesmo e a nós.
Respondeu porém o outro repreendendo-o dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós na verdade. com justiça, por que recebemos os nossos feitos o que merecemos, mas este mal nenhum fez ele, e disse ele a Jesus, Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino.
E disse-lhe Jesus: Em verdade vos digo, que hoje estarás comigo no paraíso."
Lucas 23:39-43
Feliz Natal a Todos os meus leitores.
Sol Rocha.
Fontes:
Parabéns pela entrevista tão emocionamte,onde alguém relata sua tragetoria tão dolorosa.Parabens Atila pela sua grande força.
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